sábado, 17 de setembro de 2011

Dormir, sonhar e lembrar - Parte 5 - O sono, os sonhos, e a memória

Esse poderia muito bem ser um post "pescador", para isso bastaria eu colocar no título a frase "Significado dos sonhos" ou algo como "entenda os seus sonhos". Mas este não é, nem de longe, o propósito desse blog. Também devo avisar que não tenho a menor pretensão de escrever sobre a relação da psicologia e/ou psicanálise com os sonhos o enfoque principal será como a neurociência entende os sonhos.

Entre as teorias vigentes tentando dar aos sonhos uma possível função neurobiológica está a ideia de que os sonhos teriam uma função adaptativa.

Neste post falarei um pouco sobre algumas teorias que figuram na neurociência e que tem como objetivo explicar o que são os sonhos e também para que servem os sonhos. Novamente farei apenas um resumo dos pontos principais de cada teoria e apontar algumas evidências. Com o passar do tempo farei novos textos explicando com maior detalhes cada uma dessas teorias.


Sonhos e Freud:


Curto e grosso: para Freud os sonhos seriam a expressão dos desejos mais recalcados.
Para Freud os sonhos possuem um sentido, ou um significado, possibilitando assim a sua interpretação. Freud ainda diz que esses desejos são expressos durante os sonhos devido a supressão do "ego" durante o sono, o que permitiria a expressão do ID. A figura faz uma representação de o que seriam o ID, EGO e SUPER EGO (clique na figura para créditos).
Além de toda a contribuição de Freud  para a psicanálise, vale a pena ressaltar que Freud foi o primeiro a acreditar que os sonhos eram a chave para entender a mente humana.

Sonhos e Allan Hobson:
Muito tempo depois da publicação do livro "A interpretação dos Sonhos - Sigmund Freud, 1900". E com muito mais recursos tecnológicos para estudar o cérebro surge a proposta  encabeçada pelo neurocientista J. Allan Hobson, de que os sonhos representariam um estado de protoconsciência.
Não entrarei em detalhes neste post sobre o que o Hobson chama de protoconsciência e apresentarei aqui uma ideia sucinta de sua teoria.
Para Hobson, graças às ativações pelas ondas PGO (Ponto-Genículo-Occipitais) e de uma inibição do córtex prefrontal, haveria uma ativação aleatória de diferentes áreas do córtex de modo que os sonhos seriam formados por ativações de redes neuronais que contenham informações de eventos que já vivemos. Preferencialmente eventos recentes e com algum substrato emocional.
Sendo assim, para Hobson os sonhos são a consequência dessa ativação. E devido ao caráter aleatório dessa ativação os sonhos não possuiriam um roteiro fixo.

Sonhos e uma possível Função Adaptativa:
Sonhar com uma tarefa aprendida é associado com melhora do seu desempenho em teste pós sono.
É com esse título que um grupo de pesquisadores liderados pelo neurocientista Robert Stickgold apresenta mais uma evidência de que os sonhos teriam participação ativa nos processos de consolidação de memórias declarativas. Basicamente o que foi descoberto por esse grupo é que sujeitos que tiveram sonhos relacionados com o teste que haviam aprendido antes de dormir tiveram um desempenho quase 10 vezes melhor que sujeitos que não dormiram e sujeitos que não relataram sonhos.
Juntamente com uma série de outras evidências existe a proposta de que os sonhos teriam uma função adaptativa. Explico:
Segundo essa teoria, durante os sonhos o nosso cérebro faria a reativação de diferentes redes neurais, reverberando o que foi aprendido e testando diferentes possibilidades e soluções para problemas. Simples e interessante não?
Além de evidências empíricas para esta hipótese existe também uma série de histórias de prêmios Nobel que creditam a solução de seus problemas a sonhos criativos. Dentre eles August Kekulé,  Otto Loewi, Dimitri Mendeleev.
Essa ideia de que os sonhos teriam uma função adaptativa é apoiada por diversos grupos de pesquisa, incluindo pesquisadores brasileiros como Sidarta Ribeiro que além de desenvolver pesquisa, escreve com frequência sobre o tema em sua coluna na revista Mente & Cérebro.

Existem outras tentativas de atribuir uma função aos sonhos, porém, para o propósito deste post escolhi apenas essas três, com tempo escreverei mais sobre sonhos, sonhos lúcidos e o que a neurociência tem a dizer.

Para o momento concluo que a neurociência passou muito tempo sem dar a atenção devida aos sonhos e com o devido investimento em pesquisa teremos novidades bastante interessantes e que poderão ajudar a explicar o funcionamento do cérebro e entender as funções do sono.

"Let´us learn to dream, gentleman, and then perhaps we shall learn the truth" - August Kekulé.
"Aprendamos a sonhar, senhores, e então talvez teremos a verdade".



Nenhum comentário:

Postar um comentário